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Entrevista com Ivan Casabò

Apesar de tatuar profissionalmente há pouco mais de um ano, este tatuador catalão que trabalha entre Barcelona e Berna já é uma das novas sensações da indústria.

© Julie Chamay

Três anos atrás, Ivan Casabò era um total desconhecido na cena espanhola de tatuagens. Na verdade, nem uma máquina de fazer tatuagem ele tinha. Ninguém imaginaria que três anos depois ele se tornaria um dos tatuadores mais badalados. É a recompensa por ter trabalhado duro e ser um dos poucos tatuadores espanhóis a executar com sucesso pequenas tatuagens realistas extremamente detalhadas.

Quem é o Ivan Casabò e como / quem te apresentou ao mundo das tatuagens?

Meu nome é Ivan Casabò e sou tatuador profissional desde abril de 2017. Moro em Barcelona e atualmente trabalho parte do mês em Barcelona, ​​na By Stephen James e parte em Berna (Suíça), na Benson Gascon, além dos estúdios onde trabalho como convidado. Meu estilo pode ser considerado minimalista, de linhas finas, micro-realismo e geométrico em alguns casos.

Na escola, sempre fui a pessoa que mais desenhava nas aulas e ganhava os concursos do colégio todos os anos. Ele me desenhava quando eu crescia com o corpo todo cheio de tatuagens, naquela época o mais popular era o tribal (risos).

No dia em que fiz 18 anos, fiz minha primeira tatuagem na costela, um desenho que fiz para minha mãe, que mesclava E para Eva e I para Ivan. Depois disso, fiz pequenas tatuagens até os 21 anos, nas quais tive meu primeiro grande realismo com Edu Vertikal. Foi em minha casa, rodeado de amigos, que surgiu o assunto que eu deveria aprender a tatuar, que com certeza seria bom nisso.

No final de 2015 comprei as máquinas de bobina para tatuar. Depois de conhecer Patrick Bates, experimentei a técnica de hand poke (ponto a ponto), mas não cheguei a fazer mais de 7 tatuagens em Londres com essa técnica. Em janeiro de 2016 comecei a tatuar minha perna direita. Com o tempo fui tatuando conhecidos de vez em quando, já no início de 2017 decidi levar a sério e comecei a postar apenas trabalhos de linhas finas, fotos em preto e branco e um fundo branco, lapidando assim a estética do meu Instagram e comecei a ficar conhecido em Barcelona.

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O meu estilo chamou a atenção de Joaquin Ganga, que me deu a oportunidade de trabalhar como residente no seu novo estúdio em Murcia, Ganga Tattoo. Junto com ele e com os meus novos colegas comecei a melhorar a minha técnica e a aprender sobre realismo, volumes, sombras. Dessa forma decidi começar a trabalhar com o micro-realismo.

Ao subir de nível, tive a oportunidade de viajar como convidado para vários estúdios da Europa e assim comecei a conhecer vários estilos, artistas de renome e tive a necessidade de sair da minha residência em Murcia para viajar mais.

Sua progressão tem sido meteórica, quais fatores que mais te influenciaram nesta melhoria contínua?

O começo no mundo da tatuagem é sempre complicado, talvez seja um dos setores no qual é mais difícil começar. Nem todo mundo quer ser tatuado, ter sua pele marcada para o resto da vida, por alguém que nunca tatuou ou que ainda não está em um bom nível.

A coisa mais difícil no início foi conseguir clientes, mas quando seu nível não é sua melhor arma, o atendimento ao cliente pode ser. Todo cliente que eu tatuava recebia o melhor atendimento porque ele estava me oferecendo sua confiança e sua pele, e é o mínimo que eu poderia oferecer a ele, além da minha arte. Toda a minha renda foi destinada para materiais melhores para prestar um serviço melhor.

No boca a boca fui fazendo meu nome em Barcelona e depois o Joaquin Ganga conseguiu enxergar algo em mim e deu-me a oportunidade de ir para Murcia, onde aprendi novas técnicas e aperfeiçoei a minha forma de trabalhar. De lá fui viajando e conhecendo muitos tatuadores de estilos diversos, e até oferecia gratuitamente alguns dos meus melhores trabalhos só para melhorar e mostrar ao mundo do que sou capaz. Assim cheguei ao meu nível atual, que ainda tem muito a melhorar.

Se você quer tatuar pensando em dinheiro ou para ficar famoso, você vai se decepcionar. Nesse mundo você só se torna alguém se amar muito o que faz, se quando estiver de férias só pensar em voltar a trabalhar, se no domingo você fica ansioso pra segunda-feira, se tiver tatuando de graça por 6 horas num calor insuportável e ainda assim estar feliz, porque é a sua paixão. O reflexo da paixão e do amor de um artista serão vistos em seu trabalho.

Acredito que as pessoas percebem quando coloco minha alma em um trabalho e faço tudo ao meu alcance para que o maior número de pessoas o veja, porque a arte é para ser compartilhada.

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Quem são os tatuadores que mais te influenciaram?

Como mentores devo destacar três artistas, Edu Vertikal, que foi quem me aconselhou à distância desde o início. Ele me mostrou os diferentes tipos de agulha, me disse qual usar em cada caso, tensões... a base, por assim dizer. E na Ganga Tattoo tive dois professores, Chetes e Cristian Marin, ambos me ensinaram a aperfeiçoar minha técnica tanto no traço quanto nas sombras e me ensinaram truques para aprender a usar luzes, contrastes e volumes. Muito do que sei devo a esses três grandes artistas.

Além deles, desde que entrei no mundo do realismo e optei pelo micro-realismo e a ilustração, meus artistas favoritos e aqueles que mais me inspiraram foram Balazs Bercsenyi, Oscar Akermo, John Monteiro, Mr.K e Zlata Kolomoyskaya, com certeza tem mais alguns, mas estes são cinco dos que mais admiro.

Em três anos, você conquistou muitas coisas. Que metas você definiu para os próximos três anos? Onde você se vê ou onde gostaria de se ver?

No momento estou muito feliz com o que conquistei e com tudo que aprendi nesse primeiro ano e meio em que decidi me profissionalizar na tatuagem. Meus planos agora são trabalhar por conta própria em diferentes estúdios, fazer um nome para mim no mundo da tatuagem junto com a minha família em Barcelona e desenvolver novos projetos com meus colegas na Suíça.

Sinceramente, não sou estabelecer uma meta a longo prazo porque mudo muito de opinião, não paro de aprender e portanto meu ponto de vista e minhas crenças mudam constantemente.

Gosto de me soltar e fazer o que me deixa feliz o tempo todo, de qualquer maneira meu sonho por enquanto é trabalhar em Nova York, Seul, Sydney, ou seja, viajar para longe e que as pessoas conheçam meu trabalho é o me faria mais feliz agora.

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Sua carreira está crescendo paralelamente à indústria, que também cresceu muito nos últimos dois anos. Como está esse crescimento do setor do seu ponto de vista?

Sempre ouvi dizer que a chave do sucesso é estar no lugar certo na hora certa e acho que consegui isso.

O mundo da tatuagem, como já acontecia na arte, está passando por uma mudança produzida pelo simples fato de estar ao alcance de todos. Hoje ficou acessível para qualquer pessoa comprar máquinas e aprender a tatuar por conta própria, o que gerou um boom na criação de estilos diferentes. Eu chamo esse conjunto de estilos de moderno ou contemporâneo, fora do tradicional, realista ou tribal.

Agora somos mais aventureiros com novas ideias e as pessoas estão se tornando mais abertas e aceitando a tatuagem como uma arte, o que abre portas para que a expansão da tatuagem seja exponencial.

Nós amantes da tatuagem devemos agradecer por estarmos vivendo este momento e aproveitando ao máximo, pois uma geração que enaltece a arte é uma sociedade que vale a pena.

Os tatuadores tradicionais, por outro lado, acham que isso está sobrecarregando o setor, acham que é algo que deveria ser ensinado de mentor a aprendiz, manter isso fora do mainstream. Há conflito entre a velha e a nova escola? Existe tensão entre os diferentes segmentos da tatuagem?

A arte é uma expressão global, provavelmente a mais pura e pessoal, ou seja, todos nós podemos e devemos nos expressar por meio da arte, porque é algo que nos torna únicos. Limitar isso é apenas esconder a expressão pessoal de outras pessoas com a simples premissa de que só as primeiras podem, e isso seria um erro.

O egoísmo na arte prejudica a sociedade, priva-a de possíveis criações e de artistas de alto nível que podem contribuir muito. O fato de haver mais gente não piora ou diminui a qualidade, embora nem todos que começam a tatuar tenham um nível alto, mas o que acontece é que surgem novos estilos, novos pontos de vista.

A velha escola em qualquer setor geralmente tem medo do novo, mas as duas gerações devem aprender uma com a outra e crescer juntas porque é assim que se cresce, com união e compartilhando conhecimento.

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Como você vê a evolução no mundo da tatuagem para os próximos anos?

Conforme as coisas estão, prevejo novos estilos, novas maneiras de abordar as tatuagens e uma maior aceitação ao longo do tempo.

Provavelmente uma coisa que se perderá é a seriedade da permanência e a importante decisão de carregar uma tatuagem com você por toda a vida, pois quanto maior a procura por tatuagens, maior a procura por remoção e isso gerará mais pesquisas, tornando o processo mais fácil e o preço certamente cairá.

Mas sempre haverá quem entenda a essência da tatuagem, seu significado permanente e à escolha de eternizar algo em sua pele, algo que ultimamente não parece mais possível.

Algum conselho que você gostaria de dar a quem quer tatuar com você? Algo que você gostaria de acrescentar para os nossos leitores?

O principal é não tatuar com qualquer um, nem escolher quem fará sua tatuagem somente pelo estúdio. Primeiro você deve ter muita clareza sobre o que deseja e depois descobrir qual artista pode fazer melhor essa tatuagem.

Lembre-se de que não é uma necessidade, você pode esperar. Se o artista com quem você quer fazer uma tatuagem é caro, junte o dinheiro, caso contrário, você pode acabar fazendo com alguém que não vai te dar um bom resultado e vai passar a vida toda se arrependendo ou vai ter que tirar a laser e refazer. O barato sai caro.

Além disso, respeitar o trabalho do artista. Se você tatuar com ele é porque confia no trabalho dele e já sabe como ele atua. Portanto, não desconfie de sua forma de trabalhar nem o importune com perguntas que possam indicar desconfiança no processo.

Se você tiver interesse de fazer uma tatuagem com Ivan, segui-lo em suas redes sociais ou querer conhecer mais de seu trabalho, você pode encontrar todos os dados de contato necessários e sua galeria de tatuagens aqui.

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