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Divã e tatuagem no ateliê secreto de Victor Montaghini

O badalado tatuador brasileiro revela de seu refúgio secreto e o processo de criação por trás de suas tatuagens

Publicado originalmente no Pandalux. Texto, fotos e vídeo: Agê Barros e Rodrigo Bressane.

Muitos dos atuais 178 mil seguidores de Victor Montaghini no Instagram nem imaginam a relação que ele tem com as tatuagens que mostra no seu feed. Cada desenho vai muito além de tinta na pele. Para ele, o trabalho carrega em si uma responsabilidade que faz pensar: quanto há de você na sua própria tatuagem?

O estúdio-barra-ateliê funciona em algum lugar secreto da zona sul de São Paulo. Era na Vila Madalena, mas Victor não encontrava a tranquilidade que queria para criar seus trabalhos. Mudou-se e nunca mais divulgou o endereço. O cliente só recebe a localização depois de confirmada a sessão — agendada com uma antecedência que pode passar de dois anos (sim, dois fucking anos) por causa da lista de espera.

Victor tem um processo criativo bastante pessoal. A sessão de tatuagem pode ser muito rápida, benefício de um bocado de tempo de prática. Mas o que vem antes do primeiro contato da agulha com a pele pode levar meses. Quanto tempo dura esse processo? “Depende de cada pessoa, de cada situação, não ligo pra isso, demora o quanto precisar”, explica, entre uma tragada e outra de cigarro intercalada por uma xícara de café de máquina.

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“Não me sinto à vontade para tatuar uma pessoa que não conheço minimamente”
Victor Montaghini

Victor conta que muitas vezes um cliente chega com uma ideia de desenho mas, no fundo, deseja expressar algo absolutamente diferente. Sua habilidade em interpretar corretamente essa intenção vem da psicanálise, área em que mergulhou quando sentiu a necessidade de decodificar melhor o que se passava pela cabeça dos clientes. “O cara chega e fala que quer fazer um barquinho à vela, mas na verdade buscando expressar liberdade e, no final, podemos chegar ao desenho de um pássaro, por exemplo”.

Provavelmente a densidade e singularidade de seus trabalhos vêm dessa conexão e do primor técnico que funciona como uma extensão de seus lápis e pincéis. Aliás, no passo seguinte ao conceito extraído dos papos com o cliente, ele se debruça sobre a mesa de desenho e se desliga completamente de tudo. Ali os traços fluem no papel quase no ritmo da música que preenche o tempo todo cada canto do estúdio-ateliê.

Olhando em volta e observando os quadros de Victor que podem ocupar uma parede toda — com o feminino sempre recorrente — o final da sessão de tatuagem deixa claro que na cabeça dele tudo representa um enorme processo catalizador. Da intenção à idéia, do conceito à pele, tela viva de toda essa catarse.

Singular é um projeto dos fotógrafos Rodrigo Bressane e Agê Barros, do estúdio Pandalux em São Paulo, que destaca pessoas e suas criações únicas.

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